domingo, 9 de março de 2008

“Caçando Pipas”


Para variar, depois de ver um filme denso e com certa carga dramática, uma vontade imensa de escrever surge. Isso aconteceu justamente após assistir ao “Caçador de Pipas”. Eu fico pensando principalmente no que realmente importa ou deveria importar em nossas vidas. Essencialmente, uma vida pautada em valores (os quais não precisam ser iguais para todos, mas a idéia de respeito e integridade não seriam opções ruins), contar com amigos, sendo leal e contando com a lealdade deles, fazer parte de uma família, mesmo que a mesma seja composta por não-parentes e uma ocupação/prazer/tarefas.

É impressionante como principalmente hoje a futilidade prevalece – e eu entendo essa opção, é o caminho mais fácil, até porque os principais problemas que temos hoje (nós universitários, que vivemos em uma pequena bolha de tranqüilidade relativa) não dizem respeito à questões básicas como de outras pessoas/populações. Me sinto de certo modo envergonhado por me irritar ou me preocupar com coisas fúteis sabendo que tanta coisa horrível ocorre e que tantas pessoas não contam nem com o básico do básico, como alimentos, água, moradia, resumindo, uma vida confortável.

Outra coisa realmente espantosa é a maldade. Parece muito infantil se impressionar com as atrocidades cometidas na história, inclusive atrocidades atuais e as menos perceptíveis, mas também atrozes. Só de imaginar que convivemos com pessoas que precisam de ajuda e vivem em condições de miséria plena, como mendigos e crianças abandonadas, e não fazemos diretamente nada para mudar a situação, já dá indícios de que algo está supostamente errado. Mas se tudo isso ocorre atualmente, mas também a anos, talvez seja um reflexo de nossa natureza dualística. Sim, nós somos cruéis, mesmo sem querer ou ter noção da crueldade, mas também somos capazes dos atos mais benevolentes e desinteressados a qualquer momento. Há pessoas boas e más, mas mais do que esse maniqueísmo, há uma mistura do chamado “bom” e “mal”. Realmente, é difícil e praticamente impossível para uma pessoa que vive em sociedade ser integralmente mal ou boa. Uma síntese de cargas dos dois elementos se faz necessária, mas mesmo assim, como é possível que alguém possa cometer tanta maldade contra alguém. Eu digo isso e fico tão impressionado, tendo como base as hipotéticas cenas de estupro de uma criança (Hassan na ficção) e a idéia de contrabando e exploração de crianças pelos Talibãs, em pleno Afeganistão no século XXI.

Enfim, é muita coisa para ser discutida ou pelo menos abordada. Acredito mais uma vez que as minhas reflexões sejam um sinal de amadurecimento. Mas é difícil escolher um caminho às vezes solitário e mais trabalhoso como esse. Sim, é muito mais fácil optar pelo “não ligo/não quero saber” e tocar uma vida superficial com preocupações mínima. Sei que minhas escolhas ultimamente têm valido a pena e tenho nos meus escritos um parâmetro de como tem sido essa evolução. Eu quero saber mais de nossa história como sociedade e ter uma idéia de que caminhos, ou destinos percorrerei. Mas a vida nos mostra que o acaso está atuando a cada segundo e que podemos contar somente com probabilidades. Portanto, deixo aqui uma ponta de minhas preocupações ou questionamentos, de modo a registrar a minha origem/formação como ser humano “pensante”.

É isso aí.

Até a próxima.

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